Essa é uma das constatações de pesquisa que visa auxiliar a preservação das estruturas e o desenvolvimento de novas tecnologias de concreto.
Todos sabem que o concreto é um material capaz de produzir estruturas duráveis. Mas como ele se comporta passadas mais de cinco décadas desde sua concretagem? Em busca de respostas para essas perguntas, os pesquisadores do Laboratório de Ensaios de Materiais iniciaram um projeto pioneiro em 1933. Sob a liderança do engenheiro Ary Torres, o trabalho envolveu a elaboração de corpos de prova com composições diferentes de traço. O objetivo era fazer com que essas peças, armazenadas sob condições controladas, pudessem ser rompidas e avaliadas em momentos distintos ao longo dos anos.
Em 2019, de um total de 15 mil amostras elaboradas pelo grupo nos anos 1930, 1940, 1950 e 1960, mais de 400 permaneciam armazenadas em câmara úmida do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT). Essa coleção permitiu aos pesquisadores um feito inédito no Brasil: a análise da resistência do concreto após 86 anos de sua confecção.
Principais conclusões
Uma vez rompidos, os corpos de prova históricos foram submetidos ao ensaio não destrutivo de determinação da velocidade de propagação de onda ultrassônica e ao ensaio de determinação da resistência à compressão. Também foram realizados análise petrográfica microscópicas e determinação da microporosidade total por análise de imagens de microscopia de fluorescência. Os dados obtidos foram comparados aos da ruptura de amostra semelhante com 28 dias de sua produção.
“No caso da determinação da velocidade de propagação de onda ultrassônica, os resultados apontaram valores de velocidade superiores a 4.500 m/s, o que indica que se trata de um concreto de excelente qualidade. Já os resultados dos ensaios mecânicos mostraram que os concretos continuaram a ganhar resistência ao longo do tempo”, relata o pesquisador do IPT, Osmar Hamilton Becere.
“Apesar de os resultados não indicarem um crescimento linear nesse tempo, foi constatado, em uma das amostras, um ganho significativo de resistência mecânica de 160% em comparação à idade de controle de 28 dias”, comenta a pesquisadora do IPT Priscila Rodrigues Melo Leal. Ela explica que os valores de resistência à compressão entre todas as amostras variaram de 36 MPa (amostra moldada em 1964) a 45,7 MPa (amostra moldada em 1954), correspondente a concretos com idade entre 55 a 86 anos.
Evolução Tecnológica
Os concretos produzidos atualmente são muito diferentes dos produzidos há oito décadas. Devido às crises energéticas e ao aprimoramento das tecnologias de produção, os cimentos começaram a ser produzidos com adições minerais. Também foram desenvolvidos agregados artificiais e aditivos específicos para a produção do concreto, que permitem a obtenção de resistências à compressão elevadas, reduzindo as dimensões de elementos construtivos.
“Com relação à durabilidade desses novos concretos, é necessário um estudo de longa duração, semelhante ao que foi realizado pelo IPT para verificar o impacto dessas tecnologias e insumos na durabilidade dos concretos”, diz Karoline Mariana Gonçalves Freitas, assistente de pesquisa no IPT.
Segundo ela, os próximos passos do estudo preveem a realização dos ensaios de difratometria de raios-X, análise termogravimétrica e microscopia eletrônica de varredura, entre outros, para aprofundar o conhecimento da microestrutura desses concretos.
O estudo sobre o comportamento do concreto ao longo do tempo abre um leque de novas oportunidades de análise e compreensão desse material tão utilizado na construção civil. As informações coletadas irão compor um banco de dados que podem servir de apoio para a evolução da tecnologia do concreto e da indústria nacional. Além disso, compreender o comportamento do concreto é de fundamental importância para a preservação de edificações e obras de infraestrutura existentes.